Habituei-me a ler diariamente peças assinadas por pessoas que eu admirava, a comprar jornais que para mim eram feitos por verdadeiros rockstars. Continuei a crescer, estudei mais para o exame de espanhol a ler a Holla e o El País do que a estudar os verbos pelos livros da escola. Tive 19,4. Começou a chegar a altura de escolher a a faculdade, contrariei todas as vontades da minha família que sabia que ser jornalista era ter uma vida difícil e continuei a dizer "quando crescer quero ser jornalista".
Fui tendo a sorte de conhecer pessoas que faziam do jornalismo vida, que viviam o jornalismo e cada vez dizia com mais força "quando for grande quero ser jornalista".
Fui para a faculdade, sai. Vi os jornais a despedirem, as publicações a fecharem, jornalistas a morrerem, colegas de universidades a desistir porque não havia trabalho e eu continuei a dizer "quando for grande quero ser jornalista".
Uns meses depois de ter começado o mestrado arranjei um estágio no jornal onde sonhei trabalhar a vida inteira. Desde que cortava as reportagens da Única. Foram cinco meses melhores do que uma criança a viver na Disneylândia, conheci as caras por trás das palavras que eu lia. Os nomes daqueles que para mim eram heróis. Comecei a tratá-los por tu, a chamar-lhes amigos. Continuei sempre a dizer "quero continuar a ser jornalista".
Continuo por cá, passados estes anos.
Hoje continuo a querer ser jornalista, continuo a ser jornalista e a dizer "quando for grande quero ser jornalista", quero ser grande como eles e jornalista como sou.