segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Levaram-nos tudo

Quis o destino que três dias depois dos violentos ataques em Paris se celebrasse a tolerância. Celebrar é um exagero, é algo que vamos ter que reaprender a fazer. Mas vamos fazê-lo, ninguém nos tira essa força, nenhum terrorista vai conseguir impedir que celebremos a vida. Vida, conceito que nenhum facínora conhece: respiram, movem-se mas estão mortos. Estão mortos de tal forma, com cérebros em putrefação, que querem matar tudo e todos os que encontram. Tudo. Sim, os radicais não matam só pessoas, matam coisas. Matam aos poucos o prazer da liberdade, esta sexta feira mataram o prazer de sair com um amigo, de dizer até já aqueles que gostamos, inundaram o prazer de viver com medo. Não queremos ter medo, não podemos ter medo. É assim que eles vencem. Temos medo de ter medo, de mostrar medo, de lhes mostrar que estão a conseguir, que aos poucos estão a contaminar o dia-a-dia. Não me morreu ninguém em França, mas eu morri muito. Morreu uma parte de mim que acredita estar segura neste lado da Europa, morreu a certeza de que em Portugal estou segura, a certeza de quando tudo falhar pelo menos vou ter as sextas à noite para esquecer. Que pelo menos não morra a minha tolerância, que a partir de agora não passe a olhar para um árabe como quem olha para uma fila de crimonosos numa esquadra da polícia. 

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